Comportamento

Educação bilíngue: muito além de falar outro idioma


10/06/19 às 13:59 - Escrito por Redação Tarobá News

A inclusão do inglês no cotidiano do brasileiro cresceu significativamente nos últimos anos. Entre as razões, por um lado, uma quantidade maior de pais despertos para a importância de uma segunda língua na vida da criança, principalmente o inglês, e, por outro, a atualização na Base Nacional Comum Curricular - BNCC - que, em 2017, tornou pela primeira vez o ensino do idioma uma disciplina obrigatória em todas as escolas, inclusive do setor público. Se a educação bilíngue ainda parece ser elitizada, pode ser o início de um processo de transformação do cenário da educação brasileira, de modo mais amplo. É preciso compreender que o currículo bilíngue apresenta muito mais que o desenvolvimento de uma língua adicional.

“Podemos compreender a educação bilíngue para além da instrução em dois ou mais idiomas. Pode ser um meio de ampliar as experiências com o outro, de produzir significados em conjunto; de pensar os saberes da escola não apenas em função do que se aprende dentro de sala de aula, mas sim sobre como esse saber transforma o indivíduo e seu contexto social”, explica Susan Clemesha, coordenadora pedagógica da Sphere International School, rede de escolas bilíngues e internacionais que segue as diretrizes nacionais e objetiva desenvolver crianças e jovens críticos e reflexivos, que sejam capazes de trabalhar colaborativamente para interagir em contextos locais e globais.

O nome por trás desse conceito, que tira do alvo a fluência perfeita para aquele que busca entender melhor quem é o seu interlocutor, é mobilidade. “É papel da escola de hoje preparar o aluno para conviver com as incertezas da vida, de modo que, no momento de fala, ele consiga lançar mão dos recursos disponíveis, como gestos, movimentos, emoção e o idioma. Mobilidade é isso, é comunicar com base na percepção do contexto em que se está inserido”, revela a pesquisadora e professora de Linguística Aplicada da PUC-SP, Fernanda Liberali. Para a profissional, o interessante não é apenas falar a língua em si, mas também entrar em contato com o outro e alcançar os objetivos que a língua permite.

“Precisamos ter em mente que a pessoa com quem eu vou conversar pode ser muito diferente de mim. Ela pode ter alguma deficiência ou ser de outra nacionalidade. Sem dúvida que quanto mais desenvolver as habilidades em determinada língua, melhor se comunicará, mas o bilinguismo tem um papel maior ainda, que é ampliar o repertório em outro idioma e provocar, principalmente, essa consciência, de compreender as situações e, com os conhecimentos escolares, fazer uma melhor leitura do contexto, posicionando-se de modo mais ativo”, frisa Liberali. A professora é uma das presenças confirmadas no Sphere International Seminar, que acontece nos dias 07 e 08 de setembro, em São Paulo. Com o propósito de estimular a discussão entre gestores e educadores em torno desse tema, a instituição reunirá palestrantes de vários países para debater o ensino bilíngue.

De acordo com o censo escolar do Ministério da Educação e Cultura -MEC-, o Brasil tem cerca de 40 mil escolas particulares, o que representa 21% das 184,1 mil unidades no país. Destas, segundo a Associação Brasileira do Ensino Bilíngue -Abebi, apenas 3% oferecem uma educação bilíngue, impactando entre 270 a 360 mil alunos. Se comparado ao total de 9 milhões de estudantes do ensino infantil e fundamental da rede privada, o espaço para o crescimento dessas escolas é considerável.