Londrina
Cascavel
  • Londrina
  • Cascavel

A força e a beleza da cultura indígena em registro ficcional

22/04/19 às 09:25 - Escrito por Estadão Conteúdo
siga o Tarobá News no Google News!

O título poético, talvez um tanto assustador - Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos - indica a história de uma vocação não assumida e um luto mal realizado. O protagonista é Ihjãc, jovem indígena da etnia Krahô. Na primeira cena o vemos em uma cachoeira dirigindo-se ao pai, morto. Esse cenário voltará nas sequências finais desse belo longa dirigido por Renée Nader Messora e João Salaviza.

Muito do seu encanto vem do protagonista, desenhado como ser problemático. Ele não se sente à vontade na aldeia. Teme ser levado à condição de pajé, destino que não deseja. Para escapar à sina, refugia-se na cidade, a pretexto de estar doente e precisar de tratamento médico. Na terra dos brancos será um estranho. Ninguém o compreende e seu desejo de permanecer mais tempo no abrigo governamental é visto como malandragem.

Se a história é interessante, não menos é a forma como o enredo se desenha numa visão respeitosa e profunda sobre a cultura indígena. Em muitos sentidos, Chuva é Cantoria… parece um documentário disfarçado de ficção. E vice-versa, uma história com viés documental para melhor se expressar.

Leia mais:

Imagem de destaque
CULTURA

Feira do Teatro em Cascavel abre inscrições para novos expositores

Imagem de destaque
VEJA

Canto do MARL sedia 6º Encontro de Mulheres na Roda de Samba neste sábado (25)

Imagem de destaque
"SUA VERDADE SEM MEDO"

6ª Parada Cultural LGBTQI+ de Londrina será realizada neste domingo

Imagem de destaque
PROJETO KINOCIDADÃO

Festival Kinoarte encerra neste sábado inscrições para Oficina de Maquiagem

O protagonista vê-se atormentado tanto pela vocação de se tornar xamã quanto por uma obrigação não realizada em relação à figura paterna. O pai morreu, mas a cerimônia fúnebre de sua despedida ainda não foi realizada. Ele não partiu de vez. Paira, como memória, sobre o filho. E sobre toda a aldeia. Será preciso realizar a cerimônia da tora. Um tronco de árvore é enfeitado pelo filho e a comunidade é convocada para chorar o homem morto pela última vez. Faz-se a cerimônia e, em seguida, a vida segue seu curso. Não se derramam mais lágrimas e não se evoca mais a lembrança do morto porque a rotina dos vivos deve seguir. Mas o filho não consegue realizar o luto e segue sentindo a presença do pai. Essa incapacidade será a sua condição trágica.

Neste momento em que a população indígena se encontra novamente ameaçada, este filme tem reforçada sua importância e atualidade. Sem falar de maneira direta em massacres (caso dos já clássicos Martírio, de Vincent Carelli, e Serras da Desordem, de Andrea Tonacci), Chuva é Cantoria... acena como gesto de respeito à cultura indígena. À sua beleza e complexidade, já conhecidas há muito por etnólogos como Claude Lévi-Strauss. Não há nada de primitivo na maneira como indígenas se relacionam entre si e com a natureza. Pelo contrário, são sofisticadíssimos. Primitivos são os que ignoram essa cultura e cobiçam suas terras.

© Copyright 2023 Grupo Tarobá