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Em busca do novo: uma viagem no tempo através do velho

13/01/18 às 19:55 - Escrito por Redação Tarobá News
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No centro de Cascavel

                                                                         

É na travessa Jarlindo João Grando, bem próximo da catedral de Cascavel que encontramos um portal para uma viagem no tempo. A fachada indica que o local é antigo, e basta entrar com um pouco de vontade de desbravar o mundo e encontrar o novo naquilo que é velho. 

Nas prateleiras as capas são antigas, as páginas amarelas com orelhas nas pontas, algo que não costumamos ver em vitrines, seria loucura vender algo assim se não fossem livros. Aqui nada parece novo, mas não se julga um livro pela capa, e é justamente neste emaranhado de páginas que se esconde o conhecimento, que talvez apenas uma vida não seria suficiente para absorver. É nessa pequena sala comercial de 14 metros que o seu Paulinho há mais de 30 anos passa boa parte do dia, organizando, atendendo clientes que trazem e levam exemplares, lendo e ouvindo uma boa música. 

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Dos gibis para o Velho Oeste 

                                                                         

A paixão por histórias começou ainda na infância, no contato com revistas e gibis no noroeste do estado. Nos anos 80 o rapaz foi morar na região de Guaíra onde o turismo das Sete Quedas ainda pulsava forte. Com a inundação do ponto turístico na formação do lago de Itaipu, o jovem acabou ficando desempregado juntamente com uma centena de pessoas que sobreviviam do trabalho oriundo da atividade turística. Como não encontrou outro emprego o convite de familiares que trabalhavam com banquinhas na cidade de Cascavel, lhe pareceu vantajoso, e assim o fez, lá ia o jovem paranaense, fã de Beatles tentar a sorte na Capital do Oeste. 

 “Eu vim pra cá para ficar por um tempo apenas, e de 83 pra frente o tempo foi passando, eles tinham uma filosofia diferente da minha, começaram a investir em Bijuteria, papelaria e no momento eu não achei vantajoso, pois já havia me apegado ao universo dos livros. Então prôpus que vendessem a parte deles pra mim, e isso foi acertado. Aí me livrei da papelaria e bijuteria e fiquei apenas com o trabalho de venda de gibis e livros”, conta o vendedor. 


O seu Paulinho conta que no início o que mais se vendia eram os gibis, mas depois de um tempo o consumo de livros ficou mais intenso, o que permitiu que o negócio prosperasse.


“O tempo foi passando e eu fui ampliando algumas coisas, a loja passou a contar com a venda de discos, cédulas antigas.” 

E tentar buscar significado para o ato de ler, ao homem faltam palavras. 


“A leitura é algo que foge da questão do significado, ou você gosta de ler ou não.”

‘Os romances sempre são atuais’

                                                                         

Ele ainda nos contou que romances e clássicos da literatura universal são os mais vendidos, mas os livros de psicologia e filosofia também se destacam. 

“Os romances nunca vencem, se você pegar um livro dos anos 1600, 1800 por exemplo, você vai ver que eles ainda são atuais. Pegue um Victor Hugo para ler, Os trabalhadores do Mar, Os Miseráveis, a gente vai notar que nós estamos dentro da sociedade local, só que nós transportamos através do tempo. Tem vários outros que são fantásticos, é imensa a gama de autores bons, e a gente não pode perder tempo. Um amigo meu, que já faleceu, dizia ler um livro é bom, reler é melhor ainda. Às vezes eu releia alguns destes clássicos pra mim lembrar e voltar ao tempo que é muito mais prazeroso ainda”, diz o homem.    


 O jovem que lê pouco 

                                                                 

É comum ouvir falar que o brasileiro não é muito familiarizado aos livros, e quando esse horizonte é ampliado para o lado dos jovens a situação é um pouco mais alarmante, pelo menos na visão do seu Paulinho

“A questão de cultura para o jovem é um pouco estreita, ele é muito incentivado pela questão do brilho da mídia, da internet que traz dois momentos que é deixar as pessoas informadas com mais rapidez. Já outro é que ela te prende naquele brilho e as vezes você passa o dia e a noite numa coisa que não é palpável, é o informado totalmente desinformado”, diz o homem.   

Já ouvimos falar de que quando fazemos aquilo que amamos, o trabalho que muitas vezes é visto como um fardo pesado para se carregar torna-se uma diversão. E para seu Paulo a ideia é válida. 

“Eu não me vejo em outro lugar ou em outra atividade, eu me vejo sempre aqui fazendo a mesma coisa, já é questão de identidade. Se eu fechar minha lojinha aqui hoje, eu vou dar um jeito e montar uma banquinha ali na avenida, pra vender livros e gibis para as pessoas que por ali passarem, é o que eu sei fazer é o que eu gosto de fazer”, diz o vendedor com um brilho no olhar. 


Paulinho, vinis e mais história pra contar

                                                    

A viagem continua. O local também é muito procurado pelos amantes dos discos de vinil. Por ali é possível encontrar trabalhos de verdadeiras lendas da música brasileira e mundial: AC/DC, Beatles (banda que o Paulo ama e possui uma coleção extensa, tem até disco original trazido da Inglaterra), Elvis Presley, Guns N' Roses, Chrystian & Ralf, Zé Ramalho, Caetano Veloso e uma coleção toda especial do Maluco Beleza mais amado do Brasil, Raul Seixas. O seu Paulo conhece muito da carreira do Raul desde o inicio até o fim. 


Discos e lendas eternas 

                                                                   

E se você acha que é barato comprar um disco dessa galera aí, se engana, o preço surpreende, mas vale a pena pagar, os caras são umas lendas. Uma pena para várias pessoas, para o repórter e o dono da loja é que por ali não se encontram discos de Belchior, que recentemente morreu, mas deixou sua marca na poesia empregada em suas canções. Segundo o proprietário do estabelecimento quando aparece um disco do nordestino, dificilmente ele fica ali por muito tempo. 

“O Belchior era o nosso Bob Dylan do sertão brasileiro, ele tinha toda aquela expressão musical dele que era única e que deixou uma lacuna difícil de ser preenchida”, diz o amante de canções.  


Renascimento da música; um barulho que pensa

                                                                 

Já deu pra ver que o nosso vendedor do dia não é especialista apenas em livros, o cara conhece muito de música. E confessa que espera mais das letras musicais de hoje que para ele perderam a identidade e tornaram-se um mero produto comercial. 

“Eu fico assim meio triste, porque o lado comercial divulga e promove músicas que rodam hoje nas rádios e amanhã já não tocam mais. Um artista hoje grava um comercial um jingle, qualquer coisa amanhã não está no mercado, é uma coisa descartável. A música mesmo é uma coisa que ultrapassa fronteiras, ela não acaba nunca, mas as canções ruins vão sendo esquecidas, elas são feitas em laboratórios. As pessoas não pensam elas apenas escrevem, mas a gente sabe que melodia e letra boa não morrem nunca.”  

No meio de tanta banalização da música, o vendedor espera que assim como no desfecho da era medieval, haja, hoje um renascimento da cultura nata e musical do país. 

"Se você sair na região comercial de Cascavel hoje, você vê o que se toca dentro das lojas, é muito ruim, você chega lá e se sente mal, um barulho ensurdecedor, é uma mensagem de pessoas falando pra você, gaste, gaste! Não tem letras que instiguem o pensamento crítico. Um amigo meu diz que a verdadeira música é um barulho que pensa."    





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