Houve um momento em que a escrita de Machado de Assis se encontrou com a de Eça de Queiroz - e não foi agradável. Em 1878, quando o livro O Primo Basílio, do escritor português, começou a ser comercializado nas livrarias do Rio de Janeiro, foi um sucesso de público - os leitores se encantavam com o estilo realista da escrita.
Machado, porém, não fez coro aos aplausos - em uma crítica implacável, ele condenava a "reprodução fotográfica e servil" da realidade que o colega português teria herdado do francês Émile Zola. Na verdade, como não aprovava o tom de erotismo do romance de Eça, Machado aproveita para negar um apoio à escola literária do realismo - para ele, a única personagem coerente do livro é a chantagista Juliana.
Em resposta ao ataque, Eça escreveu o ensaio Idealismo e Realismo, em que oferece um texto polêmico, marcado pelo azedume e pela polêmica. O certo é que, nesta troca de farpas, os dois autores ganharam individualmente, mesmo na diferença. "Ambos olham para Flaubert e percebem coisas distintas", observa o historiador Leandro Karnal, colunista do Estado. "Machado caminhou sempre para um afastamento quase niilista de valores consagrados. Eça terminou mais conservador, louvando família, trabalho e pátria no último texto, As Cidades e as Serras. Os estilos são diferentes. O tom reflexivo e dialógico com o leitor é, exclusivamente, machadiano. A denúncia social é mais Eça."
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Sérgio Augusto, também colunista do Estado, aponta para as diferenças que somam. "Machado, realista mais moderno e ousado, sem o ranço naturalista derivado de Zola, que tanto o incomodava, foi melhor contista que Eça, mas nem os portugueses fecham questão sobre a eventual superioridade de seu patrício como romancista. Para mim, como, aliás, para muitos autores, Machado é inexcedível."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.