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Eleito em 2006, Carli Filho teve atuação discreta na Alep

27/02/18 às 09:32 - Escrito por Redação Tarobá News
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Nascido em 17 de fevereiro de 1983, Luiz Fernando Ribas Carli Filho vem de uma família tradicional da política paranaense e foi educado para seguir os passos do pai, Fernando Ribas Carli – que foi prefeito de Guarapuava três vezes, além de deputado federal e estadual. O tio de Carli Filho também foi deputado estadual e o bisavô foi senador.

O herdeiro da família Carli disputou, já em sua primeira eleição, um cargo na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) – e conseguiu, com 46.686 votos, em 2006. Ele era, então, o deputado estadual mais jovem do estado, com apenas 23 anos. Entre seus eleitores, 37 mil eram de Guarapuava, a cidade de sua família.

Quando conquistou uma vaga na Alep, Carli Filho ainda estava na faculdade. Era aluno do curso de Publicidade e Propaganda. Na época, em entrevista à rádio CBN, ele afirmou que aprendeu a fazer política com as referências que tinha em casa. “Aprendi em casa, você ajudar os irmãos, os próximos que estão ao nosso lado. E eu quero levar esse trabalho para a Assembleia”, disse.

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Luiz Fernando Ribas Carli Filho teve uma atuação discreta no legislativo estadual. Uma das suas propostas que gerou mais repercussão foi a que instituía a obrigatoriedade da execução do hino do do Paraná nas escolas paranaenses. Era o ano de 2008, e o então deputado cobrava regulamentação por parte do governador na época, Roberto Requião, que hoje é senador. Faltava menos de um ano para tragédia que marcaria a vida dele e de outras duas famílias.

A lei, apesar de regulamentada, acabou ignorada na maioria das escolas públicas do Paraná ao longo dos anos.

O primeiro mandato de Carli Filho na Alep terminou no ano seguinte, em 7 de maio de 2009. Foi naquela madrugada que aconteceu a tragédia que matou os jovens Rafael Yared, na época com 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, que tinha 20 anos.

O caso logo ganhou repercussão nacional e internacional. Foi constatado que Carli Filho dirigia a mais de 160 km/h no momento do acidente, em uma via onde a velocidade máxima permitida é de 60 km/h.

Exames feitos após o acidente também indicaram o consumo de bebidas alcoólicas – eles, porém, não puderam ser usados como provas no processo porque foram colhidos enquanto Carli Filho estava desacordado. Uma testemunha-chave da acusação, porém, confirma essa informação. Um dos funcionários do restaurante onde Carli Filho estava antes do acidente afirma que ele bebeu vinho e chegou a cair antes de sair do local.

Com os fatos revelados e a posição ocupada por Carli Filho, rapidamente surgiu um clamor popular por justiça e contra a impunidade. Carli Filho acabou renunciando ao mandato na Alep e passou a levar uma vida reclusa.

Alguns dias após a tragédia a mãe do ex-deputado, Ana Rita Carli, concedeu uma entrevista que foi ao ar no programa Fantástico da Rede Globo. O filho dela ainda estava internado na UTI de um hospital na cidade de São Paulo, se recuperando do acidente. “Tenho pensado: onde nós erramos? Você cria um filho, faz tudo por ele, ensina os primeiros passos e, de repente, se vê envolvida em uma tragédia dessas, uma dor dessas, onde a vida para”, disse.

Carli Filho só prestaria o primeiro depoimento mais de um ano após o acidente. Foi em agosto de 2010. Ele foi hostilizado por dezenas de pessoas que estavam do lado de fora do Tribunal do Júri. O ex-deputado ficou diante do juiz por 45 minutos, mas disse não se lembrar de nada. Para o advogado de defesa, Roberto Brezinski, a perda da memória foi causada pelo trauma. “Em razão até das proporções do fato, os médicos que foram ouvidos disseram que isso realmente ocorre a quem sofre um acidente com essas proporções”, disse na época à CBN Curitiba.

Na mesma ocasião, o advogado das famílias das vítimas, Elias Mattar Assad, classificou o silêncio de Carli Filho como uma estratégia. “Uma forma sutil de exercitar o direito de permanecer em silêncio. Ele quis dizer ao juiz ‘eu gostaria de dizer, mas não lembro'”, disse.

Foi apenas no dia 6 de maio de 2016 que Carli Filho quebrou o silêncio e gravou um vídeo pedindo perdão às famílias das vítimas. “Fiquei muitos anos confuso, com tantos sentimentos diferentes, depressão, angústia, e a necessidade de reagir para me recuperar. Agora eu estou pronto para encontrar essas famílias e poder pedir perdão. Além disso, quero contar minha história para que outros jovens não façam o que eu fiz: beber e dirigir”, afirmou na gravação.

Christiane Yared, mãe de uma das vítimas, Gilmar Yared, – que acabou eleita deputada federal em 2014 – respondeu ao pedido de perdão. “O senhor está um pouco atrasado para o enterro do meu filho”, disse. “O senhor assumiu o risco. O senhor bebeu, e bebeu muito, estava em altíssima velocidade. O senhor produziu o que produziu: duas mortes. A angústia, a tristeza e as lágrimas, essas são nossas. Para o senhor, irá restar o júri popular. Nós iremos nos encontrar logo, senhor Carli Filho. E será o Tribunal do Júri”.

Chiristiane Yared se elegeu tendo como principais bandeiras o fim da impunidade e o combate à violência no trânsito. O caso se arrastou por anos na Justiça, até novembro do ano passado, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a definição da data para o julgamento; hoje (27) e amanhã (28), caso a sessão se estenda.

Nestes nove anos, a defesa apresentou mais de 30 recursos, que protelaram o julgamento. Um dos principais argumentos é o de que os jovens teriam atravessado a via preferencial onde Carli Filho trafegava, o que teria causado o acidente. A defesa nega que ele tenha assumido o risco de matar. O réu e a defesa não têm se manifestado na imprensa nos últimos meses.

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