Londrina
Cascavel
  • Londrina
  • Cascavel

Instituto dos Advogados manifesta 'preocupação' com pacote anticrime de Moro

20/02/19 às 18:50 - Escrito por Estadão Conteúdo
siga o Tarobá News no Google News!

O secretário-geral do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Carlos Eduardo Machado, e o presidente da Comissão de Direito Penal, Marcio Barandier, manifestaram "preocupação" com as mudanças legislativas previstas no pacote anticrime, encaminhado ao Congresso pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. O projeto foi debatido em audiência pública promovida pela Ordem dos Advogados do Brasil no Rio nesta terça, 19.

"O Instituto dos Advogados Brasileiros se preocupa, especialmente, com a possível consequência negativa que poderá resultar da alteração na legislação, com vistas à presunção de legítima defesa para agentes de segurança em hipotétic as situações de conflito armado", alertou o criminalista Carlos Eduardo Machado, diante do Plenário Evandro Lins e Silva, completamente lotado.

Segundo o advogado, "o incentivo à política repressiva, ao estilo bangue-bangue, poderá gerar inúmeras vítimas de balas perdidas".

Leia mais:

Imagem de destaque
SAIBA MAIS

TSE rejeita recurso de Cloara Pinheiro; defesa diz que decisão não afeta mandato

Imagem de destaque
ACUSADO DE XENOFOBIA

Câmara de Apucarana descarta cassação de Vereador

Imagem de destaque
ENTENDA

STF anula mais uma condenação de Moro contra André Vargas na Lava Jato

Imagem de destaque
ENTENDA

Terminal Rodoviário é novo ponto de votação para as eleições de 2024

A Comissão de Direito Penal do IAB está preparando um parecer sobre o pacote anticrime de Moro, dividido em três projetos de lei e lançado com o objetivo de combater com mais rigor a corrupção, o crime organizado e os crimes com grave violência.

As modificações serão feitas nos códigos Penal, de Processo Penal e Eleitoral, e nas leis de execução penal, de crimes hediondos, de drogas, de organização criminosa, de armas, de improbidade, de interceptação telefônica, de lavagem de dinheiro e sobre transferência e inclusão de presos em estabelecimentos federais de segurança máxima.

"O pacote anticrime é movido pela fé em resultados no âmbito do Direito Penal que, historicamente, não se comprovam, quando as medidas adotadas são marcadas pelo populismo punitivo", afirmou Marcio Barandier.

Para o presidente da Comissão de Direito Penal do IAB, "as mudanças na legislação podem provocar um resultado inverso ao anunciado e intensificar a violência e a criminalidade, pois as alterações visam a reduzir direitos e a aumentar as penas de prisão, o que ampliará a população carcerária brasileira, que já é a terceira maior do mundo".

Ainda segundo Barandier, "o aumento do número de presos fortalecerá as facções criminosas dentro dos presídios, onde, aliás, elas surgiram e cresceram, cooptando presos desprovidos de seus direitos".

Absurdo jurídico - Marcio Barandier também criticou a proposta de alteração relativa à legítima defesa por parte de agentes públicos. "É um absurdo jurídico, que tende a institucionalizar a violência policial, ao incentivar ações desencadeadas com abusos e excessos."

O advogado disse que a proposta de incluir na legislação ordinária a previsão de execução provisória da pena de prisão a partir da confirmação da sentença em segunda instância "é uma proposta tipicamente populista".

"A questão está sendo discutida no Supremo Tribunal Federal em relação ao seu caráter constitucional; ou seja, se a Corte Suprema decidir pela constitucionalidade, se tornará dispensável a sua previsão na legislação ordinária, assim como, se a decisão for pela inconstitucionalidade, não surtirá efeito algum a mudança na legislação, que se tornará inócua", argumenta.

O criminalista também fez críticas à proposta de monitoramento em áudio e vídeo das audiências dos advogados com clientes encarcerados. "É uma tentativa absurda de cercear a atuação dos advogados, que desrespeita a prerrogativa da confidencialidade de suas conversas com os presos, prevista no Estatuto da Advocacia", afirmou.

Marcio Barandier falou ainda sobre a adoção do instituto aplicado nos EUA e conhecido como plea bargain. "A chamada solução negociada é uma importação desastrosa do direito norte-americano, que, inclusive, está sob autocrítica naquele país", destacou.

De acordo com o advogado, a solução negociada não pode ser conduzida com o acusado preso, pois, em sua opinião, "se daria sob sigilo, sem exame de provas, sem defesa e sem fiscalização da sociedade".

A audiência pública, aberta pelo presidente da OAB/RJ, Luciano Bandeira, foi uma realização conjunta das Comissões de Segurança Pública, de Direitos Humanos e Assistência Judiciária, e Direito Processual Penal da seccional. Também se manifestaram sobre as alterações previstas no pacote anticrime a promotora de Justiça Patrícia Glioche, o defensor público Rodrigo Roig Duque Estrada e o criminalista Davi Tangerino.

© Copyright 2023 Grupo Tarobá