Saúde

Câncer de Próstata: O que é HIFU?


25/01/19 às 12:44 - Escrito por Redação Tarobá News

Embora não seja um método tão recente como se imagina, um dos mais avançados e que tem obtido bons resultados no tratamento do câncer de próstata é o HIFU (Ultrassom Focalizado de Alta Intensidade, para a sigla em inglês High Intensity Focused Ultrassound), cujas pesquisas para atestar sua eficácia tiveram início ainda nos anos 1950, na Universidade de Indiana (EUA).

Originalmente, o HIFU foi utilizado para o tratamento de doenças no cérebro, com o objetivo de apenas retirar os nódulos existentes no órgão, mantendo as demais estruturas e tecidos sadios preservados. Mais tarde descobriu-se ser muito mais eficaz, e com melhores prognósticos, no tratamento do câncer de próstata. 

O primeiro estudo com HIFU foi realizado em 1994, na Universidade de Viena (Áustria), tratando 29 pacientes, antes de realizar uma prostatectomia radical – o estudo descobriu que o tratamento poderia ser realizado com segurança e ser repetido.

Para responder as principais dúvidas sobre o tratamento do Câncer de Próstata com a técnica HIFU, destacamos abaixo as questões mais comuns de pacientes e familiares, a partir da experiência clínica, no Brasil e no exterior, do uro-oncologista Marcelo Bendhack, Doutor pela Universidade de Düsseldorf (Alemanha) e pela Universidade Federal do Paraná, especialista pela Sociedade Brasileira de Urologia e Presidente da Sociedade Latino-Americana de Uro-Oncologia (UROLA).

Dúvidas Frequentes sobre HIFU

 

O Câncer de Próstata tem cura?

Marcelo Bendhack – Sim, desde que o diagnóstico seja precoce. Quanto antes for diagnosticado, maiores são as chances de cura. Desta forma, o paciente poderá se beneficiar do tratamento com avançadas terapias não invasivas, como é o caso do HIFU, aplicado apenas pelo trajeto natural do corpo do paciente, sem incisões ou cortes. Por ser tópico, reduz os riscos de incontinência urinária e de impotência sexual, efeitos colaterais comuns quando realizadas cirurgias e radioterapia.

O toque retal, associado à dosagem da proteína PSA no sangue, permite a detecção do tumor ainda em estágio precoce. As consultas devem começar a partir dos 40-45 anos.

O que é o HIFU?

Marcelo Bendhack – O Ultrassom Focalizado de Alta Intensidade (HIFU) é o foco das ondas sonoras para criar calor e energia mecânica num ponto específico (ou seja, o ponto focal). Esta energia efetivamente destrói o tecido-alvo.

Como o HIFU trata o câncer de próstata?

Marcelo Bendhack - O foco das ondas projetado num ponto específico destrói o tecido e deixa as células que estão ao redor da próstata ilesas. Ao contrário da radiação, a energia HIFU é “limpa”, ou seja, pode ser aplicada repetidamente (se necessário), sem causar danos ao tecido entre o transdutor e a próstata.

Quais são os resultados que se conhece com o tratamento por HIFU?

Marcelo Bendhack - Um estudo internacional publicado por Toyaki Uchida¹, MD (Japão) relatou que 94% dos pacientes (baixo risco) estavam livres da doença após quatro anos. Além disso, 92% dos homens tratados com HIFU tiveram um PSA de 2ng/ml ou menos, após 3 meses do tratamento com HIFU, conforme outro estudo, apresentado pelo Dr. Mark Emberton, de Londres (ING).

O HIFU tem indicação para o câncer de próstata localizado de baixo, médio e alto risco². Entre os métodos disponíveis, é o que apresenta os menores índices de efeitos colaterais, de 0 a 2% para incontinência urinária e de 5 a 26% para disfunção erétil, baixa taxa de mortalidade (praticamente nula) e alto índice de sobrevida livre de metástases aos 10 anos, com taxas aceitáveis de morbidade.

O HIFU é um tratamento minimamente invasivo para o câncer de próstata localizado com taxas de cura de curto e médio prazo, similares e consideravelmente com menos morbidade e efeitos colaterais em comparação com demais terapias convencionais.

O HIFU só trata as células cancerígenas?

Marcelo Bendhack - O HIFU irá remover qualquer tecido alvejado pelo médico com o dispositivo durante o planejamento do tratamento, baseado no relatório de patologia e exames de imagem. Desta forma, será possível definir quanto da próstata deve ser tratada. Toda a próstata poderá ser alvo do tratamento e, neste caso, incluiria o tumor e qualquer outro tecido da próstata. No entanto, com auxílio de imagens avançadas por ressonância magnética e/ou PET-SCAN com PSMA, o médico pode determinar a localização exata do tumor na próstata e usar o HIFU para tratar apenas o tumor, deixando outros tecidos da próstata intactos (terapia focal). Os tratamentos focais têm ainda menor risco de danificar estruturas importantes da região próxima do órgão, como o esfíncter urinário e os nervos que são importantes para as ereções.

Minimamente invasivo, sem introdução de instrumentos, agulhas ou sementes radioativas, o procedimento com HIFU tem duração média de 3 horas e não necessita de transfusão sanguínea, reduzindo as complicações cardiovasculares. O tempo de internação é de 12 a 24 horas.

Como surgiu o HIFU?

Marcelo Bendhack - As pesquisas com HIFU começaram ainda nos anos 1950, na Universidade de Indiana (EUA). O primeiro estudo para o tratamento de câncer de próstata humano foi realizado em 1994, na Universidade de Viena (Áustria), tratando 29 pacientes, antes de realizar uma prostatectomia radical – o estudo descobriu que o tratamento poderia ser realizado com segurança e ser repetido.

Estudo de 1995 apresentou resultados de aplicação segura do HIFU para a próstata em 50 pacientes (Ebert et al., grupo do Prof. Ackermann, em Düsseldorf, Alemanha). Durante este estudo, Bendhack estava nesta mesma Universidade (Düsseldorf). No mesmo ano, um outro estudo, desta vez realizado na Universidade de Indiana, mostrou que toda a próstata poderia ser tratada sem danificar a cápsula dela ou a parede retal. No Japão os tratamentos começaram em 1999.

Na Europa, os órgãos reguladores aprovaram o HIFU em 2001. A partir de 2004, tornou-se disponível em hospitais e centros de tratamento no México, Costa Rica, África do Sul e Caribe. No Canadá a aprovação ocorreu em junho de 2005 com os primeiros procedimentos HIFU realizados em Toronto, em março de 2006. No Brasil, foi aprovado pela ANVISA em 2008. Nos Estados Unidos, teve aprovação pelo FDA (Food and Drug Administration) em 2015.

O primeiro procedimento no Brasil ocorreu em 2011, em Curitiba (PR), antes da lei de regulamentação sobre tratamentos experimentais (lei 12.482/2013). Está disponível na rede particular, mas ainda aguarda a confirmação do Conselho Federal de Medicina (CFM) como procedimento não experimental, visando inclusão no Rol da ANS.

Qual a segurança para o paciente?

Marcelo Bendhack - A detecção de feixes neurovasculares ajuda o médico evitar causar danos a estruturas sensíveis ao redor da próstata, tal como manter as condições da função erétil e, com o monitoramento, determinar a temperatura e a proximidade da área a ser tratada, protegendo o tecido da parede retal durante a terapia. Entre outros benefícios, isso ajuda a preservar a qualidade de vida do paciente.

Com o HIFU, o câncer pode voltar?

Marcelo Bendhack - Sim, como acontece com qualquer tratamento para o câncer de próstata. No caso do HIFU, apenas a área da próstata que contém o tumor é atingida. Isso é determinado após vários tipos de diagnósticos por imagem e relatórios de biópsia para confirmar o estadiamento da doença. Mas somente com base no diagnóstico é que o médico poderá avaliar possíveis recidivas.

Se após o tratamento com a técnica houver uma elevação no PSA e/ou evidência de que o câncer apareceu em local diferente (na próstata), é possível voltar a empregar o HIFU no novo local. Esta é uma abordagem muito menos radical para localizar o câncer e eliminá-lo. Além disso, o paciente pode optar por qualquer outro tipo de terapia neste novo momento.

Qual a vantagem do HIFU sobre os demais tratamentos tradicionais?

Marcelo Bendhack - Estudos mostram que HIFU tem taxas de eficácia semelhantes a outros tratamentos para câncer de próstata, mas com menor risco de efeitos colaterais, como incontinência urinária e disfunção erétil. O procedimento com o HIFU é mais curto, o tempo de recuperação mais rápido e o período de uso de cateter (sonda na bexiga) é bastante reduzido.

O HIFU é um tipo de radiação, como a braquiterapia?

Marcelo Bendhack - Não. O HIFU está completamente livre de radiação. Trata-se de uma fonte de energia limpa e não ionizante. Ele é diferente da braquiterapia, onde as sementes radioativas são colocadas dentro da próstata e permanecem no órgão após a conclusão do procedimento. Muitas vezes, essas sementes migram para outros órgãos, o que pode causar problemas adicionais aos pacientes.

Caso o paciente tenha sido tratado anteriormente com radioterapia externa ou braquiterapia e a doença retornou, existe indicação para o HIFU, agora chamado HIFU de salvamento?

Marcelo Bendhack - Sim, estudo recente (Crouzet et al.³) aponta elevada taxa de controle e mesmo cura da doença, nesta indicação. Os efeitos colaterais são menores e menos intensos que para a cirurgia de salvamento. Esta indicação tem sido apontada como a melhor por muitas sociedades médicas da especialidade, em diferentes países. Nos centros onde atuo, em São Paulo e Curitiba, não houve nenhuma fístula (comunicação anormal) entre uretra ou bexiga para o reto, após aplicação de HIFU como salvamento após radioterapia.

Quais os cuidados antes do tratamento com HIFU?

Marcelo Bendhack - Os pacientes devem ter exames laboratoriais, cardiológicos e eletrocardiograma recentes. O médico indicará a necessidade de dieta específica (evitar alimentos que favoreçam a produção de gazes por 2 dias antes do tratamento, como cebola, feijão e condimentos apimentados), medicamentos e outros exames adicionais, de acordo com cada caso.

Em quanto tempo posso retornar às atividades?

Marcelo Bendhack - A recuperação do paciente dependerá do estágio e da localização de sua doença, mas, geralmente, o retorno às atividades ocorre em poucos dias. Após o procedimento, são necessárias poucas horas em recuperação, seguido de algumas horas de internação em quarto comum, para então receber alta para voltar para casa.

Os desconfortos são leves. Pode ocorrer obstrução ao fluxo urinário (e por isso é deixada uma sonda de segurança). Os potenciais efeitos colaterais podem incluir estenose da uretra (5 a 10%), incontinência urinária (0 a 2%), disfunção erétil (5 a 7% para aplicação parcial ou focal, 26% para total) e fístula retal (próximo de 0%).

Pacientes que se deslocam para o tratamento, habitualmente recebem autorização para viajar (até mesmo via aérea) no dia seguinte ao procedimento. Na maioria dos casos é possível retornar ao trabalho (em escritório ou com pouca movimentação) no dia seguinte ou 2 dias após o procedimento.

É permitido conduzir veículos quando temos a cor da urina clara ou amarela. Atividade física mais intensa pode ser praticada após 25 dias.

Quando posso retomar a relação sexual?

Marcelo Bendhack - Normalmente, os pacientes podem voltar a atividade sexual depois que o cateter for removido. O procedimento, por ser tópico, apresenta menores efeitos colaterais, como incontinência urinária e impotência sexual, geralmente mais elevados no tratamento cirúrgico e na radioterapia.


Incidência do Câncer de Próstata

O câncer de próstata ainda é a neoplasia não cutânea mais comum e a segunda maior causa de óbito oncológico no sexo masculino. Segundo recente estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA 2018), são 68.220 novos casos a cada ano, no Brasil.

O Global Cancer Observatory (GCO), plataforma que apresenta estatísticas globais do câncer, órgão vinculado à Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (Organização Mundial da Saúde, OMS), estima, para 2040, 2.293.818 casos de câncer de próstata, para todas as idades, ante 1.276.106, para 2018. Na faixa etária até 69 anos, a expectativa é de 963.398 casos (650.367 em 2018), enquanto que a incidência na faixa acima dos 70 anos é de 1.330.420, mais de 100% em relação a 2018 (625.739 casos).