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Capacitar agentes é estratégia para diagnóstico precoce da Hanseníase

26/05/23 às 11:12 - Escrito por Agência UEL
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A hanseníase, doença antiga de caráter infeccioso-crônico e estigmatizante, ainda hoje consiste em um problema de saúde pública no Brasil e é considerada doença negligenciada. O município de Londrina registrou, ao longo de todo o ano passado, apenas 12 casos de Hanseníase, cujos sintomas clássicos são o aparecimento de manchas na pele e a alteração da sensibilidade no local. A detecção de um número tão pequeno, no entanto, evidencia a falta de atenção com a doença, que ainda é carregada de estigmas sociais, e pode causar lesões neurais e danos irreversíveis quando identificada tardiamente. É o que avalia a docente do Departamento de Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde (CCS)/Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGENF) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), enfermeira, Dra. Flávia Meneguetti Pieri, na semana que marca o Dia Estadual de Conscientização sobre a Hanseníase - 26 de maio.  

 

Coordenadora do Grupo de Atuação e Pesquisa em Infectologia (Gapi) da UEL, a pesquisadora lembra que Londrina registrou média anual de 200 casos da doença até 2012. No entanto, o número caiu com o passar da década, chegando a 28 (2020), 26 (2021) e 12 no ano passado. Dentre os fatores que explicam a queda, aponta a professora, estão o processo de reorganização do sistema de saúde e, mais recentemente, as novas demandas trazidas com a pandemia da Covid-19, tuberculose e a dengue.

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"Todos os profissionais da saúde das Unidade Básicas de Saúde (UBSs) são capacitadas para identificar um caso suspeito, minimamente, fazer a notificação, mas observamos que a partir da descentralização do sistema de saúde e, mesmo havendo todo o conhecimento, não há mais um olhar para essa doença. Merece atenção dos gestores públicos para a elaboração e continuidade de programas direcionados à eliminação da doença. O combate não é muito efetivo por parte do governo, já que afetam populações de menor peso político. Talvez a falta de planejamento, de acompanhamento de entrada e saída de servidores que se aposentam, acreditamos que também, possa ser um viés que colabora para a redução das notificações", explica a professora. 

 

Para aumentar as chances de identificação da Hanseníase em moradores da Região Metropolitana de Londrina (RML), o (Gapi/UEL vem realizando capacitações com equipes da Atenção Básica. No ano passado, 206 dos 270 Agentes Comunitários de Saúde (ACSs) da Secretaria Municipal de Saúde de Londrina participaram desta atividade. Para este ano, o objetivo é levar os conhecimentos para os profissionais que atuam em todos os municípios da 17ª Regional de Saúde, atualmente focados no combate à epidemia de dengue. "Neste ano, queremos levar para os 21 municípios da 17ª Regional com outros 470 agentes, sendo 70 de Londrina, totalizando 676", diz. 

 

Brasil 

 

Em 2019, o Brasil registrou 28,8 mil casos de Hanseníase, número que representou uma estabilidade em comparação com 2018 e 2017. No entanto, com as atenções voltadas à pandemia da Covid-19 e as medidas restritivas, em 2020, o total de diagnósticos de hanseníase foi bem menor - 18 mil - acendendo um alerta dos especialistas para o fenômeno da subnotificação da doença. 

 

Mesmo assim, os números colocam o Brasil em primeiro lugar no ranking de países com maior incidência de hanseníase e em segundo quando considerado o total de casos, atrás apenas da Índia. 

 

Estigma 

 

Considerada na Antiguidade como uma maldição ou castigo divino, a doença era chamada de “Lepra” pelos povos hebreus, a qual ganhou uma nova denominação em função das descobertas feitas pelo médico norueguês Gerhard Armauer Hansen (1841-1912), e em 29 de março de 1995 por meio da Lei no.9.010, o termo “Lepra” e seus derivados não podem ser mais utilizados, devendo ser descrita a partir de então como Hanseníase. Como não havia cura, aqueles que apresentavam as manchas acabavam sendo isolados do convívio social e, com o passar dos anos, os chamados leprosários foram sendo institucionalizados. No Paraná, o Leprosário São Roque foi o primeiro deles, instituído em 1926, em Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba.

 

Apesar dos avanços científicos e da divulgação das informações corretas, o preconceito e o afastamento social ainda são aspectos relatados por pacientes, lamenta a pesquisadora Flávia Meneguetti Pieri. 

 

Dedicada ao estudo da hanseníase há 10 anos, ela explica que apenas duas das quatro formas clínicas conhecidas - Dimorfa e Virchowiana - são transmissíveis. Após ter realizado a coleta de dados com pacientes em seu doutorado, pós-doutorado, e na atualidade pesquisas com seus pós-graduandos (nível mestrado/doutorado), ela constata que o Paraná registra maior incidência destes tipos da doença quando comparados com as não-transmissíveis - Indeterminada e Tuberculóide. 

 

Causada pela bactéria Mycobacterium leprae, a principal via de transmissão é a via área superior, por meio de gotículas pesadas (espirros, tosse, fala, beijo) em contato íntimo e prolongado com pacientes multibacilares SEM tratamento (forma dimorfa ou virchowiana). É a única bactéria que invade o nervo, podendo levar a incapacidades físicas irreversíveis. "É importante frisar que a transmissibilidade não é tão alta. É preciso conviver muito e ter relacionados fatores genéticos, ambientais e imunológicos", explica. 

 

 

Tratamento 

 

O tratamento para a hanseníase é 100% gratuito e disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), podendo ser concluído entre seis e nove meses (forma não-transmissora) e entre 12 e 18 meses (forma transmissora). "Se o paciente concluir o tratamento, acreditamos na cura. Mas, é preciso realizar um acompanhamento ao longo de cinco anos no SUS", explica. O diagnóstico da hanseníase é baseado principalmente em manifestações clínicas, e a escassez de sintomas no início da doença pode contribuir para erros no diagnóstico ou para o subdiagnóstico. O diagnóstico precoce e a introdução do tratamento específico são importantes para reduzir fontes de transmissão e prevenir doença grave com incapacidade física.

 

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