Um movimento global de leve recuperação das moedas emergentes e a nova estratégia do Banco Central no mercado de câmbio tiraram o fôlego do dólar nesta quinta-feira. Já em queda desde a abertura, o dólar acentuou as perdas na final do pregão e furou o piso de R$ 4,00, em meio a um leve refresco na aversão ao risco no exterior, evidenciado pela alta das bolsas americanas e diminuição da queda dos retornos dos Treasuries.
Com máxima de R$ 4,050 e mínima de R$ 3,9808, registrada no meio da tarde, o dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 3,9901, em queda de 1,21%. Apesar do recuo no pregão desta quinta-feira, o dólar ainda acumula alta de 1,26% na semana e avança 4,46% em agosto.
Operadores e analistas viram com bons olhos a nova estratégia de atuação do Banco Central no mercado cambial, mas ressaltam que não há motivos para esperar uma apreciação maior do real no curto prazo. O temor de recessão global, em meio à guerra comercial entre China e Estados Unidos, deixa o mercado sensível a movimentos abruptos de aversão ao risco, que se traduzem em venda de ativos emergentes e compra de dólares.
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"Tivemos um alívio pontual para moedas emergentes lá fora, com alta até do peso argentino, mas o quadro de guerra comercial pode se agravar e impulsionar o dólar, apesar da atuação do Banco Central", afirma o estrategista Jefferson Laatus. "Ainda há muita pressão no câmbio, com aversão ao risco e saída de estrangeiros da bolsa. O BC vai suprir essa demanda, mas não dá para descartar que o dólar volte trabalhar acima de R$ 4,05", acrescenta Durval Corrêa, sócio-diretor da Via Brasil Serviços.
À exceção do rublo, o dólar amargou perdas em relação a todas as divisas de países emergentes ou exportadores de commodities. Até a moeda argentina, abalada pela perspectiva de volta do kirchnerismo , pegou carona no movimento global de recuo da moeda americana. O dólar caiu mais de 5% e passou a ser negociado abaixo dos 60 pesos.
Em vez de ofertar apenas swaps cambiais tradicionais, o BC vai realizar, no período de 21 a 29 de agosto, leilões diários de venda de até US$ 550 milhões, conjugado com oferta de swaps cambiais reversos (equivalente a compra de dólar futuro). Caso venda lotes integrais durante os sete dias úteis de intervenção, o BC terá injetado US$ 3,850 bilhões no mercado à vista.
"O BC está adaptando sua atuação à nova realidade do mercado, com maior pressão de dólar à vista. Ao mesmo tempo, dá liquidez no futuro para quem quer se desfazer de swaps tradicionais", afirma Laatus.
O especialista ressalta que a alta recente do dólar não se dá por razões domésticas, como eventual temor de malogro da reforma da Previdência e piora dos fundamentos fiscais. Ou seja, não há uma piora da percepção em relação ao Brasil, mas um movimento global de fuga para a qualidade. "Essa venda de reservas é para suprir uma demanda e não significa uma tentativa de controlar o dólar, até porque o movimento é global", afirma.