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Em rede social, professor reflete sobre acadêmica que se suicidou

22/07/18 às 22:05 - Escrito por Sandro Carbonera
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Um professor da Unioeste, aproveitando a rede social fez um breve relato sobre a morte de uma acadêmica do campus de  Cascavel,ocorrida  na última semana .

A garota cometeu suicídio na última sexta-feira, no próprio quarto, no bairro Maria Luiza. O professor Luiz Fernando Reis, que leciona no curso de Enfermagem , falou em seu relato sobre a morte da jovem e o dia a dia da universidade.

Leia o texto descrito pelo professor em seu Facebook:

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"A respeito do suicídio da acadêmica do curso de Medicina da Unioeste: a vida humana é extremamente complexa. Não há uma teoria única capaz de captar e explicar os comportamentos humanos. Qualquer generalização seria simplificar a complexidade das escolhas e dos atos dos seres humanos. Quando uma jovem universitária, que conseguiu ingressar no mais concorrido curso de graduação da Unioeste, resolve voluntariamente por um ponto final na vida é preciso pensar. O que levou essa estudante a tomar tal atitude? É bem provável que tal atitude resultou de um longo processo de sofrimento. É provável que muitas situações relacionadas à sua vida pessoal e acadêmica desencadearam tal sofrimento. O cálice do sofrimento, pouco a pouco, se encheu e transbordou, numa atitude desesperada, numa atitude de quem, tudo indica, perdeu completamente a esperança num futuro melhor. Como dizia José Martí, “uma vida sem esperança é uma mera travessia para a morte”. Sendo assim, para aqueles que perderam a esperança, antecipar a morte, por fim à própria vida, pode ser uma forma de por fim aos sofrimentos que tornaram a vida “um vale de lágrimas”, um fardo. Talvez, para essa jovem estudante não havia mais sentido continuar vivendo uma vida de tristeza e sofrimento. Tentar especular sobre qual foi o “pingo d’água” que fez transbordar o cálice do sofrimento dessa jovem seria uma irresponsabilidade.

Entretanto, tem me chamado a atenção, já há algum tempo, as centenas de postagens de estudantes relatando situações de sofrimento, tristeza, injustiça, falta de critérios em processos avaliativos relacionados ao processo ensino-aprendizagem na Unioeste e demais universidades. De novo: qualquer generalização seria uma irresponsabilidade. A Unioeste não é um bloco homogêneo.

Há distintas práticas docentes: há professores que preferem “os rigores do inverno”, há outros que preferem “a alegria da primavera”, há outros que preferem outras estações do ano. Há professores que labutam diariamente, se entristecem muitas vezes com a falta de respeito e de condições materiais, mas persistem na mais generosa tarefa do professor que é ensinar com alegria e respeito. Tais professores acreditam que a geração mais nova pode e deve ter uma vida escolar melhor que a geração mais velha. Tais professores acreditam que a escola pode dar “asas”, ensinar os estudantes a “voar” na direção de seus sonhos, constituindo-se em protagonistas de sua própria vida.

Nenhuma escola pode se converter numa gaiola que aprisiona corpos e espíritos. Precisamos de universidades que ensinem a pensar e não tão somente a obedecer. A produção da ciência carece de homens e mulheres livres e criativos. Homens e mulheres que só sabem obedecer serão incapazes de criar, de inovar e produzir ciência. Relações no interior da universidade que produzem tristeza, medo, subserviência, esgotamento físico e mental (algumas vezes o desespero que abrevia a vida) são práticas que não se coadunam com o espírito de liberdade, autonomia e alegria que deveria caracterizar o processo de transmissão/assimilação e construção do conhecimento.

Há alguns poucos estudantes que não tem nenhum compromisso com a sua própria formação e não justificam o financiamento público em seu processo de formação. Porém, o que me preocupa é a maioria de estudantes que diariamente encontro nos corredores da Unioeste. Muitos deles trazem estampada no rosto a tristeza (cansaço, sofrimento ....). Os poucos que trazem a alegria estampada no rosto correm o risco de serem advertidos: “cuidado, vocês estão na universidade e aqui é um lugar de tristeza e sofrimento”. Rir, gargalhar (como na Idade Média) pode ser considerado um comportamento inadequado, por alguns que confundem rigor acadêmico com mau humor.

Neste ano, comemoramos 100 anos da grande rebelião dos estudantes da Universidade de Córdoba (Argentina). Tais estudantes ousaram questionar o modelo universitário vigente (arcaico e autoritário). A rebelião estudantil logo se espraiou para outros países da América Latina e, até hoje, é considerada um marco na história das universidades latino-americanas. Contribuiu para a construção de um modelo renovado de universidade em nosso continente. Talvez, seja o caso de nos inspirarmos na Rebelião estudantil de Córdoba e quebrarmos nosso silêncio e aprofundarmos as discussões (que já existem localizadamente) de como superarmos, dentre outros, os visíveis problemas relacionados ao processo ensino-aprendizagem na Unioeste.

A Unioeste se tornou uma das mais conceituadas universidades do país. Chegamos nessa posição porque éramos alimentados por um sonho: construirmos aqui nesta região, no interior do Paraná, contra a vontade dos poderosos de Curitiba, uma grande universidade pública, gratuita e que fosse reconhecida pela qualidade na transmissão (ensino) e produção do conhecimento (pesquisa). Esse sonho alimentou nossa esperança em superar todos os imensos obstáculos que se interpunham entre o que éramos, nos anos de 1980, e o que sonhávamos ser no século XXI.

O Futuro chegou. Realizamos nosso sonho. Talvez seja o momento de perguntarmos: qual é o novo sonho que vai alimentar de esperança nossa vida cotidiana? Perdemos a capacidade de sonhar? Quem não sonha não tem esperança. Quem não tem esperança pode se converter num desesperado: qual seria a consequência disso, pessoal e coletivamente.

A Unioeste já há algum tempo tem acumulado problemas que não podem mais ser “varridos para baixo do tapete”. A Unioeste não pode se converter na Seleção Brasileira: viver das glórias do passado. É preciso refundar a Unioeste. Precisamos de um novo sonho para sonharmos coletivamente. Precisamos de um sonho que nos dê esperança para continuar vivendo.

Estou nesta universidade desde os tempos da Fecivel (1986) e ainda não perdi, completamente, a esperança. Como diria o Mário Sérgio Cortella: “Não confundamos esperança do verbo esperançar com esperança do verbo esperar”. Ter esperança não significa esperar até que os problemas se resolvam por si mesmos ou pelos outros. Ter esperança significa se levantar, não silenciar, não desistir, juntar-se com outros para fazer de outro modo. Há muitos insatisfeitos com atual situação (estudantes, funcionários e professores). É preciso transformar a insatisfação em algum tipo de ação coletiva, por menor que seja. Grandes transformações se fazem lenta e coletivamente. É preciso começar.

Apesar do peso, apesar dos dias chuvosos e cinzentos, apesar de tudo, apesar da morte de algumas flores, apesar dos invernos rigorosos, todo ano a primavera teimosamente reaparece para nos lembrar que, apesar dos rigores do inverno, há momentos da vida belos, ensolarados e floridos. É preciso caminhar ao encontro da primavera: lá reside a nossa esperança.
Luiz Fernando Reis (Professor do Curso de Enfermagem – Unioeste/Cascavel)



Desde o ano passado o 188, tem sido adotado em pelo menos 8 estados brasileiros e tem ajudado a salvar muitas vidas, o número funciona como se fosse uma central de ajuda, onde a pessoa recebe orientações de profissionais da área da saúde, a ligação é gratuita e o sigilo é absoluto.

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