Cinema

"Me Chame Pelo Seu Nome" retrata a prazerosa e dolorosa descoberta do primeiro amor

18 jan 2018 às 08:21

"Me Chame Pelo Seu Nome" pode ser definido como uma história intensa de amor, que como em todo clichê, tem seu início, meio e fim. Porém, o filme dirigido pelo italiano Luca Guadagnino demora tanto para engatar alguma ação que faz parecer que estamos assistindo eternamente uma propaganda de margarina com pessoas felizes e saudáveis. Não é difícil ficar encantado pelas belas paisagens de uma Itália dos anos 80 e seu verão cheio de cores e temperatura quente. Ou de não se sentir atraída pelos personagens mais lindos que um filme poderia reunir com Timothée Chalamet e Armie Hammer. Mas "Me Chame Pelo Seu Nome" tem suas armadilhas, e foi isso que certamente destruiu e salvou meu coração.

Estamos em uma belíssima casa de campo, situada no interior da Itália, onde a família de Elio (Chalamet), no auge dos seus 17 anos, passa as férias de verão. Tudo parece monótono demais até a chegada do americano Oliver (Hammer) que não economiza no charme e na simpatia. O hóspede chega para trabalhar em uma pesquisa com o pai de Elio, Mr. Perlman (Michael Stuhlbarg), um especialista em cultura grego-romana, e claro, para desfrutar dos prazeres locais. O interesse no americano é tão instantâneo que o adolescente sempre busca uma brecha para ficar perto ou de conversar sobre ele com qualquer pessoa. Oliver também demonstra que gosta da companhia do jovem, mas sempre deixa tanto o garoto quanto nós em dúvida em relação aos seus objetivos naquela casa. Ou melhor dizendo, das suas intenções amorosas naquele círculo de pessoas.

O roteiro de James Ivory, baseado na obra de André Aciman, parece ter seu ponto de partida, quando o casal finalmente cede às tentações, e a partir daí a paixão se intensifica à medida que o tempo corre entre os dois. Como um dos personagens questiona o outro sobre o quanto demoraram para ficarem juntos, como se todo o período anterior tivesse sido desperdiçado. E não é que é bem assim na vida quando encontramos uma paixão avassaladora? E apesar do romance ter iniciado escondido da família, aos poucos a situação se torna até mesmo esperada por todos em volta. O grande triunfo de Me Chame Pelo Seu Nome está exatamente nesta não-problematização do envolvimento amoroso entre o casal. Não existem tabus em relação a homossexualidade, não existe preconceito escancarado e não há barreiras que impeça a vontade deles ficarem juntos. Mas claro, aqui a história está longe de ter um final feliz para todos, e novamente, o filme alcança seu auge quando Elio está em pedaços e é consolado, da forma mais sincera, pelo seu pai, Mr. Perlman. Até mesmo o público vai se sentir de coração aliviado e esperançoso de que todo amor, principalmente o primeiro, vale a pena ser vivido.

"Me Chame Pelo Seu Nome" está longe de ser um drama que termina em tragédia – um caminho que felizmente está sendo desviado ultimamente nos cinemas – e retrata apenas a delícia e a dor de descobrir o amor sob o olhar juvenil. Afinal, estamos acompanhando Elio desde início desta jornada e ele parece inquieto com tudo ao seu redor. Estudioso, curioso, amoroso e ainda por cima, toca piano, o personagem não teme ao se expressar e é aberto a qualquer experiência. O longa ganha créditos por simplesmente deixar as ações ocorrerem sem que haja problematizações desnecessárias em cima dos assuntos, já que tudo não passa de processos naturais. O diretor Luca Guadagnino acertou em cheio ao trazer um relato direto sobre o relacionamento amoroso entre dois homens e fugir de qualquer julgamento perante a isto. Me Chame Pelo Seu Nome é exatamente como a vida deveria ser.

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